Já citei minha grande amiga Rosana e algumas de nossas viagens. Ela também me levava com ela para visitar seus parentes em uma cidadezinha do Paraná. Seu pai, a quem eu chamava carinhosamente de Tio Pepe, nos levava em seu delicioso Opala.
Viajávamos à noite e por vezes tio Pepe parava o carro no acostamento para nos mostrar o céu forrado de estrelas, enquanto saboreávamos um sanduíche de mortadela com guaraná.
A casa de seus tios era uma típica casa sulista de madeira, com fogão à lenha e ferro de passar à brasa. Fabricavam vinho caseiro à moda antiga (lavando seus pés e massacrando as uvas numa enorme bacia de madeira. Colocavam uma tarantela ou qualquer música italiana bem alegre para que bailassem sobre as uvas. Depois então, saboreávamos um pão caseiro bem quentinho com um copo desse vinho que, cá entre nós, me deixava muito estonteada e conversávamos somente coisas boas! Rosana tinha um casal de primos muito divertidos: Maria Antonieta, que se parecia com uma bonequinha de porcelana dos anos 30 e Pedro que parecia com aqueles personagens típicos de TV.
Uma noite quase geou e por isso ganhamos como cobertores, peles de carneiro. O assoalho era de madeira e rangia muito. Por falta de espaço, eu e Rosana ficamos na mesma cama. Isso foi um ótimo motivo para provocarmos diversos acessos de riso e levarmos uma bronca de seus tios. Uma noite, ouvimos um barulho estranho do lado de fora da casa e juntas gritamos. Em 2 minutos, eis que surge seu primo Pedro com uma enorme espingarda engatilhada e apontada para cima gritando: Pode vir! Venha se é homem que eu te pego charanga! No meio dessa confusão armada, Pedro tropeçou e a espingarda disparou uma porção de chumbinhos! Sim, chumbinhos...
Tenho muitos primos do lado materno com quem convivi uma boa parte da minha vida. Um dos meus tios morava em uma pequena cidade próxima a Araraquara e quando eu ia para lá, meu primo Carlinhos pegava seu violão e tocava e cantava as minhas sertanejas prediletas. Eu, em seguida, cantava MPB com minha prima Valéria. Na foto abaixo estão Valéria e Carlinhos. Não se espantem com as aparências. Afinal, já se passaram muiiitos anos em que ela foi tirada.
Abaixo vocês vêem a casa de meus avós maternos. Esta foi a última foto tirada antes das casas serem demolidas. Vivi muitas coisas boas e bonitas de minha infância neste lugar.
Na verdade, o terreno abrigava 3 casas. Nesta, moravam meus primos Lucimar e Renato.
Havia um sofá-cama no quarto deles. Lembram-se daqueles sofás com molas? Aquele que ao se abrir fazia uma barulho estridente e revelava na parte de baixo, um compartimento para se guardar "coisas"? Pois essa era a minha cama quando eu queria dormir por lá. Mas saibam, valia muito a pena porque meu primo, inteligente que sempre foi, nos contava histórias que lia em seus livros e o fazia de uma forma tão vívida que conseguíamos vibrar com cada uma delas. Ele também conseguia memorizar um certo conto de Rui Barbosa que sempre dou risadas quando me lembro.
Certa vez, um ladrão foi roubar galinhas
justamente na casa do escritor Rui Barbosa.
O ladrão pulou o muro, e cercou as galinhas.
Naquele alvoroço, Rui Barbosa acordou de seu
profundo sono, e se digirigiu até o galinheiro.
Lá chegando, viu o ladrão já com uma de suas
galinhas, e disse:
"-Não é pelo bico-de-bípede, nem pelo valor
intrínsico do galináceo; mas por ousares transpor
os umbrais de minha residência. Se for por mera
ignorância, perdôo-te. Mas se for para abusar de
minha alma prosopopéia, juro-te pelos tacões
metabólicos de meus calçados, que darte-ei tamanha
bordoada, que transformarei sua massa encefálica,
em cinzas cadavéricas."
O ladrão todo sem graça se virou e disse:
"-Cumé seu Rui, posso levar a galinha ou não???"
Com minha prima foram muitas as situações em que estivemos juntas, pois morei por um ano e meio em casa de meus avós. Sua presença em minha vida foi e ainda é de extrema importância. Temos muitas coisas em comum relacionadas a família. Lembro-me que houve uma época em que a moda era tailleur de tergal e sandália plataforma. Meu Deus! Nem temos fotos dessa época. Não valia a pena. Outra coisa que me lembro era que aos sábados nos sentávamos na calçada em frente da casa com nossos apetrechos de manicure e pintávamos nossas unhas ouvindo as 60 mais da semana. Nossa! Era um programão...
Ah! tem também os nossos carnavais, é claro. Naquela época íamos à Tabatinga onde meu tio, o Sargento Irineu, nos conseguia a entrada gratuita no clube da cidade. Lá se viam famílias inteiras brincando com confete, serpentina e às vezes sentíamos no ar o cheiro de lança-perfume. Mas tudo era extremamente familiar... Numa dessas noites carnavalescas um moço se engraçou com minha prima e isso até acabou num beijo. Quando ela perguntou ao moço qual era a sua profissão, ele respondeu: "Sou açougueiro e também trabalho no matadouro". Deste momento em diante, minha prima começou a chorar e a lavar a boca desesperadamente. Coisas que acontecem numa noite de carnaval, não é?
Aqui, um momento que não posso deixar passar. Meu aniversáro de 23 anos. Esse dia foi muito especial porque o Julio já estava dando seus primeiros olhares "diferentes" para mim.
Este palhaço foi presente do Julio
Da dir. p/esq: Johny, meu padrinho de civil, Albert, padrinho do Carlos próximos ao Julio.
Abaixo, um encontro entre primos e tios em 2006 - Tabatinga